quarta-feira, 20 de junho de 2018

Jurassic World: Reino Ameaçado

Quando chegou aos cinemas em 1993, o filme Parque dos Dinossauros , causou uma grande agitação no mercado cinematográfico, muito pelo fato do longa trazer melhorias tanto na parte técnica em relação aos efeitos visuais, quanto em seu marketing direcionado ao público jovem.

O mundo ficcional criado por Michael Crichton (1942 – 2008)  ganhou continuações em 1997 (O Mundo Perdido) e o terceiro em 2001 (Jurassic Park III), e depois de quatorze anos, fizeram o rentável reboot Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros (2015), que agora ganha mais uma parte, nesse mundo um tanto agressivo.

Em Jurassic World: Reino Ameaçado ( Jurassic World: Fallen Kingdom – 2018 ), A ilha Nublar em que os dinos vivem, está ameaçada pelo erupção eminente do vulcão nativo da região, que irá afetar todos os seres que residem no arquipélago. Um grupo formado por empresários querem algumas espécies vivas para serem usadas como armas.

E para essa missão (que está disfarçada de resgate), contratam a ex-diretora do parque Claire (Bryce Dallas) que convida o adestrador Owen (Chris Pratt) para tal tarefa, mas no desenrolar da trama, descobrimos que além dessa conspiração ( o resgate e a preocupação ambiental não passa de uma farsa), há um outro segredo que mudará todo o sentido dessa história.

O diretor espanhol J.A. Bayona , procura repetir o mesmo clima de aventura e sobrevivência do filme de 1993, refazendo as mesmas situações do filme clássico, no novo. Em parte, ele acerta, mas perde a mão em momentos importantes da trama. Como a franquia já foi explorada ao extremo desde o seu começo e revitaliza no filme 2015, o atual ficou meio fora do encaixe na história original, focando mais no resgaste e na subtrama, e deixando de lado a aventura.

Mesmo não tendo um propósito plausível, o longa diverte e deixa um final aberto que pode ser aproveitado com mais criatividade, já que a fábula ainda gera interesse e  pode ser mais explorada.

A parte em relação aos dinossauros digitais, vemos falhas em sua execução, pelo fato deles mudarem de tamanho a cada mudança de cena, que no filme de 1993 e dos posteriores, sempre tiveram um tratamento mais cuidadoso.

A personagem Claire Dearing (Bryce Dallas), dessa vez corre utilizando botas, que no filme anterior (2015), sofreu reclamações por estar sempre usando salto-alto em todas as cenas de ação.

E aqui fica o destaque para atriz-mirim Isabella Sermon que dá um show de talento.



segunda-feira, 18 de junho de 2018

Gui Boratto (Pentagram) - Arquitetura Moderna.


Original da cena prolífera de música eletrônica brasileira, que ajudou a botar o país no mapa dos grandes produtores e DJs que trabalham com emusic ao redor do mundo, o paulistano Gui Boratto chamou a atenção logo em seu primeiro disco Chromophobia (2007) do qual apresentava um álbum recheado com um Minimal Tech mais alinhado, que contribuiu para que seu nome fosse catapultado para grandes eventos, além de mostrar que no Brasil se produz música eletrônica de qualidade. Com esse empenho e dedicação, o produtor acabou recebendo elogios de vários críticos em diferentes publicações sobre música eletrônica, incluindo um considerável público fiel. Chromophobia passou a fazer parte de listas de melhores do ano.

De 2007 em diante, Boratto ficou com uma agenda apertada de tantos festivais do qual se apresentava. O músico nesse meio tempo, lançou outras gravações como “Take My Breath Awayuma continuação direta de Chromophobia , “III” (2011) e inúmeros remixes e parcerias com diferentes artistas. E após o seu disco “Abaporu” de 2014, o produtor volta com o seu trabalho mais maduro.

Em “Pentagram” (2018- Kompakt) ouvimos o músico em sua melhor fase tanto musical quanto conceitual, apesar de que o álbum não aborda de fato as formulações geométricas e as formas rigorosas da arquitetura (antes de ser músico, Boratto era arquiteto);  o disco tem uma sisudez e estética original. É recheado com uma boa coleção de faixas que irão agradar desde o mais purista em relação ao Minimal Tech, até o ouvinte mais moderno e livre de preconceito.

A partir de sua abertura com “The Walker” que tem uma pegada bem synthwave, até ao seu fechamento com a quase hipnótica e sintética “618”, o músico apresenta uma grande variedade de estilos e ritmos, mas sem fugir do clima de pista de dança. O disco não tem a agitação comum do qual se destina, Pentagram fica preso ao andamento desacelerado característico do Minimal, mas sem sua repetição exaustiva.

Faixas como “Scene 2”, “The Phoenix” são o contra ponto em relação as músicas mais agitadas,“Overload” (que tem sample de “Scene 1” do Chromophobia), “Alcazar”, “Hallucination  são o ápice, as composições podem fazer a festa nas mãos dos DJs mais exigentes. Já que Boratto compreende como funciona uma pista de dança sisuda, sem precisar apelar para uma abordagem mais estridente ou fácil. Não há apelo.

O que Boratto fez, foi rechear toda a sua base simples, com uma variedade de sintetizadores e instrumentos, deixando tudo soar orgânico e natural. De primeira, nem se assemelha ao disco genérico de música eletrônica dançante, aliás, “Pentagram” foge por completo desse estereótipo designado ao estilo tão diversificado que é a emusic. O que ouvimos, é um trabalho quase artesanal dentro da Dance Music.

O hiato de cinco anos entre “Abaporu” e “Pentagram” fez bem ao músico, que nesse intervalo pôde pensar e refletir na forma de como iria desenvolver todos os sons que se escuta em seu novo álbum. E dando a entender que o próprio procura trilhar por novos caminhos sensatos dentro e fora da Dance Music. “Pentagram” é o primeiro passo para esse inevitável amadurecimento.

Em tempo, bom disco.

Radio CultFM


sábado, 2 de junho de 2018

Filosofia não é ciência e está fadada a desaparecer, afirma pesquisador

[RESUMO]  Responsável por renovar instituto de pesquisa em Portugal fala sobre método científico e explica como organizar grupos de pesquisadores.

Em 1998, o Instituto Gulbenkian de Ciências (IGC), situado em Oeiras, perto de Lisboa, inaugurou edificações modernas e recebeu um grupo totalmente renovado de pesquisadores que ali se instalaram para fazer ciência num contexto muito diferente do que existia até então em Portugal, um país sem tradição na área.

Meros 12 anos depois, o órgão recebeu reconhecimento internacional ao ser destacado entre as dez melhores instituições de pesquisa em biociências na Europa como destino para jovens cientistas. Nesse curto espaço de tempo, os pesquisadores do IGC deram várias contribuições relevantes e publicaram trabalhos nos mais prestigiosos periódicos.

O responsável pelo espantoso renascimento do IGC é António Coutinho, médico imunologista português que esteve no Brasil a convite do Instituto Serrapilheira para participar de evento de divulgação científica, organizado em parceria com a revista Piauí.

Na entrevista a seguir, ele fala sobre o método científico e sobre como se produz pesquisa de ponta —pesquisa que abre novos horizontes, traz inovações e tecnologias que serão a base para a sociedade do amanhã; pesquisa que permite à sociedade decidir de forma autônoma seu futuro. Pesquisa que faz muita falta em nosso país.

 António Coutinho, médico imunologista português - Micael Hocherman

Qual é a singularidade das ciências naturais em relação a outras formas de ser e de estar no mundo?

O exercício de derivar, racionalmente, as leis fundamentais que organizam o mundo. Se descobrimos essas leis, sabemos como o mundo funciona e como nós próprios funcionamos. Eu acho que a singularidade está totalmente baseada na racionalidade, e isso é muito novo. Em geral, a humanidade tentou de forma predominante perceber as coisas ou pela mágica, ou pela religião.

A ciência é distinta. É uma das poucas atividades humanas [cuja] origem se pode identificar e que tem uma origem única, simultânea à origem da democracia.

Isso já diz muito, ou seja, não há ciência sem um regime em que as pessoas possam exprimir o que pensam, porque a ciência avança pelas contradições que tem, pela oposição das hipóteses emitidas. A ciência evolui no domínio das dúvidas, e não no domínio das verdades, da certeza absoluta, que é o domínio da religião.

Como vamos excluindo as hipóteses que estão erradas, esta coisa avança, progride. Hoje sabemos mais do que há cem anos, há dez anos, do que no ano passado. Todo o resto da atividade humana não progride.

Por isso filosofia não é ciência, porque nunca progride. Eu tenho o maior respeito pelos filósofos porque o objetivo da filosofia é o mesmo que o da ciência: explicar o mundo e a nós próprios. Agora, nós temos um bom processo e eles não têm, portanto estão fadados a desaparecer. O que é o objetivo da filosofia vai ser resolvido pela ciência, e a filosofia vai passar a história.

Eu acho que os cientistas são os únicos que resolvem problemas, e [isso] é uma coisa de que as pessoas, habitualmente, não estão muito cientes. Problemas absolutamente fundamentais, que muita gente chamaria de metafísica, [como] a origem do universo, o que é a consciência e outros problemas muito mais triviais, como [matar] uma célula cancerígena, coisas assim. Isso é o que nós fazemos, resolver problemas.

Quando você fala ciência, você inclui também os processos tecnológicos, que de alguma forma derivam, são consequência da ciência?

Eles são consequência da ciência. Durante muitos séculos, a tecnologia [teve] base empírica. As pessoas andaram de barco durante muitos milênios, até que Arquimedes descobriu por que aquilo flutuava. Hoje em dia, para inventar um nanotubo de carbono, é preciso bastante ciência; para melhorar um tratamento médico, tem que haver ciência.

É por isso que de vez em quando algum governo um pouco menos estúpido e mais iluminado que os outros investe na ciência: não é pela ciência, é pela tecnologia que está se derivando, porque agora todos já veem que o motor do progresso é a ciência. Porque a ciência produz tecnologia, a tecnologia produz inovação, inovação produz economia, crescimento econômico etc. É triste que os governos não invistam na ciência pelo que a ciência é.

Quais são as características dos grupos de pesquisa que trazem as maiores inovações, que estão na fronteira do conhecimento, no caso da pesquisa em biociências?

Sempre fui contra grupos muito grandes. Acho que um grupo é uma unidade funcional em que as pessoas têm que se conhecer muito bem, saber o que o outro pensa e colaborar ativamente. Por outro lado, o avanço tecnológico é tão rápido e tão avassalador que grupos pequenos não têm nenhuma probabilidade de seguir o progresso tecnológico se ficarem isolados.

A única maneira é que esses grupos tenham outras vantagens, que estejam reunidos, postos todos juntos em instituições maiores que possam cuidar da infraestrutura.

Os cientistas e os seus alunos de doutoramento e pós-doutoramento deveriam apenas pensar na ciência que querem fazer. Não deveriam ter que se preocupar em "como vou arranjar dinheiro agora para comprar um microscópio ultrassensível?". Isso deveria estar garantido pela instituição.

O ideal é instituições com 20, 30 ou 40 grupos, que já tenham tamanho suficiente para assegurar a infraestrutura e o avanço tecnológico, que proporcionem às pessoas maneiras de interagir, de discutir, mas mantendo cada grupo pequeno.

Em algumas partes do mundo, como nos Estados Unidos, há grupos que são do tamanho que eu acho que deveria ser a instituição. Estudantes e pós-doutorandos desses grupos grandes veem o chefe do grupo uma vez por mês, ou um pouco mais. É triste.

A tendência dos grupos é acumular muito financiamento, e quanto mais financiamento, maiores são. A consequência disso é que os grupos estão cada vez maiores e cada vez há menos recursos para jovens que estão começando.

E isso vai de certa forma cercear a diversidade. Você fica com grandes grupos, monotemáticos, e aquela ideia nova não emerge porque você não tem recurso fora daqueles grandes temas.

As ideias novas vêm sempre dos grupos pequenos. O grupo pequeno está sempre contra a maioria, o que é bom por causa dessa história da evolução no domínio da dúvida, da contradição. Além disso, e há muitos estudos sobre isso, o dinheiro que se dá a um grupo grande é muito menos rentável do que o dinheiro que se dá ao grupo pequeno.

Vocês deveriam fazer esse estudo no Brasil, avaliar dez grupos grandes, dez médios e dez pequenos.
Há experiências a nível nacional. A Suécia sempre teve boa investigação. Então fizeram uma reforma para concentrar recursos. Foi uma catástrofe, até agora. Cada vez tem menos produtividade científica. Concentraram recursos, ou seja, a maior parte dos grupos pequenos deixou de ter financiamento e só teve duas alternativas: parar ou juntar-se ao grupo grande.

Se você tem tudo igual, não há cooperação possível, é só competição. E a competição, apesar de os biólogos dizerem que é o motor da evolução, não é. Competição não inventa nada de novo, é uma gestão de recursos limitados. A cooperação nos leva a vidas melhores, a níveis de vida mais interessantes, de unicelular para multicelular. E a possibilidade de cooperação aumenta com a heterogeneidade dos componentes.

Quais são as opções de carreira para doutores em ciência?

Sempre uma minoria irá pesquisar e liderar grupos de pesquisa. Em média, um bom chefe de um grupo ativo, pequeno, forma um doutor por ano. Ao final de 20, 25 anos de carreira, um cientista formou 20, 25 novos cientistas. Mesmo que a gente fique com os 20, em pouco tempo são 20 vezes 20. Eu já tenho [cientistas] da terceira geração. São 400 vezes 20. Estamos em 8.000 formados por um só cientista.

É absolutamente utópico pensar que esses 8.000 deveriam todos fazer a mesma coisa que eu fiz. É uma estupidez total. Há muitas outras maneiras de utilizar o que se aprendeu fazendo doutorado. Há o que se costuma chamar de mobilidade lateral, ou seja, continua a trabalhar em coisas científicas, mas não como pesquisador.

A maior parte dos doutores nos Estados Unidos vai ensinar, e não fazer pesquisa. Além disso, a mobilidade lateral também implica ser divulgador de ciência, atuar na gestão da ciência, ser lobista de assuntos científicos.

Há no Brasil ainda a imagem de que se você fez doutorado e não é professor ou pesquisador, você "debandou".

É muito importante que as pessoas se deem conta [da importância da mobilidade lateral]. A parte mais bonita do tango é quando vai a lateral. Nem toda gente nasce para fazer isso [pesquisa]. Acho que é um indicador de desenvolvimento científico: se a maioria ainda faz a mesma coisa, o país está muito pouco desenvolvido. Quanto mais desenvolvido o país, mais saídas têm que não a da pesquisa universitária.

Nos programas de doutorado em Lisboa, muitos médicos fizeram doutoramento e voltaram a trabalhar no hospital. Eles dizem: "Deixamos de ver os doentes da velha maneira; agora estamos preocupados com o mecanismo da doença". A medicina não ensina a fazer perguntas, ensina a ter procedimentos corretos. Portanto, as coisas mudam muito.

Quais são as suas indicações de livros para quem se interessa pela ciência?

Há tantos que já não sou capaz de fazer uma lista de cabeça. Há um autor que eu gosto de ler, porque é muito otimista, e eu acho que a ciência, por natureza, é otimista: Steven Pinker. Há um [livro dele] que eu acho que toda gente deveria ler: "Os Anjos Bons da Nossa Natureza".

E um mais recente ["Enlightenment Now", iluminismo agora], em que a coisa fundamental do livro é que o que conta para avançarmos é a racionalidade, a ciência e o humanismo. Como ele disse, o conhecimento tanto pode ser para um bom fim, ou um mau fim.

Portanto, o conhecimento em si não tem valor intrínseco. Por isso, uma ciência que seja consequência da racionalidade, e profundamente humanista, só pode contribuir para a melhoria do mundo. 
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Alberto Nóbrega, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é mestre em matemática e doutor em imunologia. Fez seu pós-doutorado com António Coutinho no Institut Pasteur, em Paris.

Fonte