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segunda-feira, 28 de agosto de 2023

John Coltrane A Love Supreme – Live In Seattle — Apresentação rara, finalmente disponível


Texto original publicado na revista Uncut em Dezembro de 2021, publicação na qual falam de uma apresentação ao vivo com o saxfonista John Coltrane que acabava de lança o seu disco mais importante “A Love Supreme” (1965), e por sorte , a hipnótica apresentação foi gravada por um dos operados de áudio da rádio que transmitia a performance tão impactante quando o disco em si.

Abaixo uma adaptação:

"Vendo a Luz: Ouro Arquivístico do Jazz, com uma Abordagem Espaçosa e Inspiradora da Obra-Prima de Coltrane. Por John Robinson."

"Ele era grande e gentil, relatou o Melody Maker, muito diferente de sua música. Em vez de estar ocupado e animado, o John Coltrane que recebeu o músico e escritor Mike Hennessey em um quarto de hotel francês era tranquilo, devocional e calmo. Ele ensaiou sua música sem constrangimentos por uma hora. Ele comeu uma refeição de gemas de ovo, sopa, pêssegos e água, e falou sobre "redescobrir" Deus.

Suas águas calmas escondiam correntes fortes. Um mês antes, Coltrane e um elenco de 10 músicos adicionais haviam gravado de forma livre o álbum  "Ascension", uma explosão feroz baseada em um simples chamado blues. Na noite anterior, enquanto isso, Coltrane e seu quarteto haviam desconcertado a plateia no Festival de Jazz de Antibes ao tocar a peça "A Love Supreme" na íntegra, empurrando seus limites e ultrapassando-os com mais 15 minutos exploratórios. A plateia e os organizadores, esperando sofisticações polidas, se viram testemunhando uma busca contínua.

"A Love Supreme" foi gravado em 9 de dezembro de 1964. Em outro canto do mundo da música, Ringo Starr estava no hospital se recuperando de uma amigdalite, enquanto Coltrane e seu quarteto - Elvin Jones (bateria), McCoy Tyner (piano), Jimmy Garrison (baixo) - em uma sessão criaram uma suíte de jazz que esperava reconhecer e agradecer a Deus pela orientação. A peça é construída em torno de um tema recorrente de quatro notas murmurado pelo grupo e, em seguida, parte para uma jornada que parece espiritual, mas também sazonal.

Algo substancial é plantado no Lado Um ("Acknowledgement"/"Resolution") e isso então floresce de maneira mais livre e abrangente no toque em grupo do segundo lado ("Pursuance"/"Psalm"). Era uma peça composta, séria desde o gongo de abertura até a nomenclatura eclesiástica. Tudo, desde os solenes Coltranes dublados em "Acknowledgement", até a expressão indagadora do líder na capa, o fixa em nossas mentes como uma entidade completa: um álbum clássico.

No entanto, as ações de Coltrane sugeriam que a música era um começo, não um fim. No estúdio, ele experimentava: tentando uma versão de "Pursuance" com Archie Shepp e o baixista Art Davis expandindo a banda.

Aquela versão não vingou, mas em suas notas de capa, Coltrane disse que esperava poder dar continuidade ao trabalho que foi iniciado aqui. Não houve apresentações repetidas da música nem residências teatrais de "A Love Supreme" onde a banda se esforçou ao máximo para maximizar as vendas. Em vez disso, Coltrane foi guiado muito mais por sua própria intuição, pelo que ele sentia que era certo para o público.

De fato, em sua segunda noite em Antibes, Coltrane respondeu ao clima e tocou um conjunto mais enraizado em músicas que agradavam à multidão, voltando a "My Favourite Things" e "Impressions". Por um longo tempo

"A primeira apresentação em Antibes na primeira noite foi considerada a única gravação ao vivo de 'A Love Supreme'. Agora se descobre que alguns meses depois, em 30 de setembro de 1965 - na mesma sessão de gravação do lançamento póstumo de 1971 'Live In Seattle' - Coltrane tocou 'A Love Supreme' novamente. A apresentação, realizada no clube Seattle Penthouse diante de uma pequena plateia para o programa de jazz regular de quinta-feira à noite de Jim Wilke na rádio local, soa mais como música da parte posterior da década de 1960: executada por músicos em dashikis, não em ternos.

A banda é ampliada (o quarteto é acompanhado pelo baixista/flautista Donald Garrett e pelo saxofonista Pharoah Sanders), mas também a música, como se janelas adicionais tivessem sido instaladas em um edifício já espaçoso e sereno.

Quatro interlúdios, principalmente com duelos de baixos mais o ocasional sino de oração, proporcionam uma visão adicional da espiritualidade. Elvin Jones fornece um balanço clássico e engenhoso durante toda a apresentação, mas um novo senso de informalidade ao nível do tapete permeia a música.

A percussão é sacudida durante os 20 minutos de 'Acknowledgement'. Os acordes de McCoy Tyner flutuam à vista. A performance de Coltrane responde ao clima com contribuições relativamente beatíficas, permitindo a Pharoah Sanders espaço para falar em línguas mais vigorosas. Chegando aos 15 minutos de tratamento de 'Pursuance', o solo de Tyner esclarece as semelhanças e diferenças.

Ainda é uma música com muita virtuosidade e muitas notas, mas ela e seus músicos estão vivendo sua adaptabilidade, como a evidência revela tudo o que acreditávamos anteriormente que essa composição fosse, uma confluência de improvisação livre e o que posteriormente se tornou o 'jazz espiritual'.

No final da sessão, pode-se ouvir um trecho de conversa. "Acho que é isso..." "... Melhor que seja." Talvez inevitavelmente, no entanto, isso não foi o fim da busca de Coltrane, nem mesmo para essa semana.

No dia seguinte a esse show, ele levou seus músicos da noite anterior (acrescentando Joe Brazil, que gravou o show) para o estúdio do baterista de música country e western de Seattle, Jan "Kurtis" Skugstad. Eles gravaram uma sessão lançada após a morte de Coltrane, o álbum 'Om', que apresenta um cântico do Bhagavad Gita

O DJ de rádio Jim Wilke relembra o concerto.

Como você estava nesse show?

Eu estava na estação de rádio KING-FM em Seattle, trabalhando em várias programações, divulgada como uma 'mostra das artes vivas'. Uma das atrações era uma transmissão ao vivo semanal de um clube chamado Penthouse. Era um espaço longo e estreito, o palco à esquerda ao entrar, com um degrau elevado e teto espelhado sobre o palco. Basicamente, era destinado a assentos em torno de mesas de coquetel.

Como foi a apresentação?

Coltrane nunca falou com a plateia, ele simplesmente ficava de pé e tocava. Quando fiz a introdução ao vivo, e Pharoah Sanders fez os primeiros sons, ele estava rangendo e chiando, e eu me virei para ele e disse: 'Cara, eu não sei o que você está fazendo, mas estamos no ar.' Eles estavam tocando, e Coltrane veio até onde eu estava mixando e fez um sinal para os fones de ouvido. Ele acenou a aprovação e me disse: 'Isso provavelmente vai durar mais de 30 minutos.”

O que você achou da performance?

Tanto eu quanto muitos na plateia esperávamos mais daquela faceta de John Coltrane do que a que eles viram. Eles ficaram meio atordoados. Foi minha primeira experiência com jazz livre ao vivo, e eu ainda estava tentando entender. Acho que muitas pessoas também estavam.

Fonte da entrevista: John Robinson

 

quinta-feira, 28 de julho de 2022

Blue Train de Joh Coltrane ganha edição especial

 


A gravadora Blue Note anunciou uma nova edição especial do álbum Blue Train (1958) de John Coltrane (1926 —  1967) intitulada “Blue Train: The Complete Masters para o dia 16 de setembro de 2022.

O Lançamento é em homenagem ao aniversário de  65 anos do lançamento do álbum original. A edição terá formatos em vinil, CD e streaming além de um box especial que contém um livro com fotos inéditas da gravação do disco durante a década de 1950 feitas pelo fotógrafo Francis Wolff (1907 – 1971), que registrou tanto John Coltrane quanto Miles Davis durante o período de ouro do jazz.

“Blue Train: The Complete Masters” apresentas takes alternativos de faixas famosas como “Blue Train”, "Moment's Notice" e "Lazy Bird". O trabalho nessa remasterização foi feita por Joe Harley e Kevin Gray a partir das fitas masters analógicas originais.


“—Poucas experiências de estúdio que tive, podem se comparar com a emoção de ouvir as fitas master originais – mono, estéreo e tomadas alternativas – de Blue Train—”, disse Harley em um comunicado. “ —Considero essas duas novas versões as edições definitivas desta obra-prima de John Coltrane.—”

O edição especial já se encontra em pré-venda.

Fonte: Consequece of Sound

terça-feira, 3 de julho de 2018

John Coltrane – Both Directions At Once - Uma aquarela em Preto & Branco


Exímio músico com uma excelente técnica de improviso, John Coltrane (1926 -1967) fez parte de uma geração de artistas que contribuíram para uma mudança significativa no meio musical, muito desse mérito, por levarem o que criaram para um patamar até então não explorado. As suas composições, não subverteram a música em si, mas apresentaram trabalhos com uma qualidade inédita e surpreendente, que até hoje gera um grande fascínio em seus ouvintes.

Em 1965 quando lançou o LP A Love Supreme, Coltrane foi transformado em um gigante do jazz, o saxofonista já tinha o seu nome prestigiado entre os músicos e público. Devido ao seu talento, passou pelo cultuado Miles Davis Quintet (1955 – 1969) do qual ficou por dois anos, chegando a participar do essencial Kind of Blue (1959). Em carreira solo, assinou contrato com importantes gravadoras como: Prestige, Atlantic, Blue Note e Impulse!. Essa última, da qual ficou até o encerramento de suas atividades. E gravações inéditas desse período, merecem todo destaque.

Both Directions At Once: The Lost Album (Impulse! CD/Vinil e streaming) não é um trabalho conceitual ou muito menos planejado, mas o disco é um verdadeiro achado. As fitas originais foram perdidas, e o que sobrou, são cópias em mono que foram registradas no dia 6 de março de 1963, no estúdio Rudy Van Gelder (Nova Jersey – EUA), local muito usado pelas gravadoras Blue Note, Prestige entre outras.

No disco o que se ouve, é um belo registro de um conjunto de músicos em seu ápice sonoro e virtuosidade, no qual o improviso e a forma livre são o fio condutor de todas as faixas. Porém o registro é um trabalho cru, quase sem tratamento de pós-gravação, se assemelhando a um rascunho para um álbum mais acentuado, mas apesar do time de músicos serem de primeira, o resultado final é bruto. Mesmo não tendo o acabamento necessário e soando rústico, o que se escuta é praticamente sublime.

Coltrane e sua banda formada pelos músicos McCoy Tyner (piano), Jimmy Garrison (baixo) e Elvin Jones (bateria), desfiram uma grandiosidade técnica fazendo do álbum verdadeiro deleite. Oferecendo ao ouvinte um exemplo de integridade harmoniosa e uma ampla habilidade sonora, sem cair em redundâncias. Acompanhamos esse grupo exibindo sem filtros todo o talento e competência do que produziam no palco.

Há a interpretação da música “Nature boy” gravada por Nat King Cole; uma versão de “Vilia” do disco Live at Birdland (1964); takes alternativos de “Impressions” (1961) e “One Down, One Up” do álbum Live at the Half Note (1965), faixas já conhecidas de gravações ao vivo, que aqui se encontram mais robusta. Entre as 14 músicas, temos a longa “Slow Blues” que possui a maior variedade de peripécias e precisão. A conexão entre os músicos é caprichada, quase espiritual.

The Lost Album é John Coltrane em estado natural. Fica difícil fazer um destaque adequado, já que se trata de um dia de gravação com faixas avulsas. Mesmo sem ter viés próprio, é divertido escutar esse arquivo até então desconhecido. Principalmente na época em que esses artistas se encontravam e sua melhor fase, tanto musical quanto técnica. E não deixando nenhuma dúvida, que John Coltrane foi um músico de talento insubstituível.

 Em tempo, excelente disco.

RadioCult FM