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sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Scheila Carvalho Playboy - 20 anos



Lançada em fevereiro de 1998, a edição de N 871 da revista Playboy (Abril, 1975-2015), foi uma das publicações que indiretamente ajudaram a criar um novo caminho editorial para versão brasileira da matriz americana, mudança que acabou tendo resultados positivos em suas vendas e, deixando a publicação como uma das mais procuradas em banca de jornal naquele período.

Essa edição trouxe estampada em sua capa a dançarina Scheila Carvalho, que na época era integrante do grupo de Axé Music chamado É o Tchan!, Conjunto musical que obteve um estrondoso sucesso com o público jovem, muito desse mérito devido as constantes aparições que faziam em inúmeros programas de TV no fim dessa década.

E a Playboy acertou em cheio ao convidar a recente componente do grupo, para posar em suas páginas.  Para essa tarefa chamaram o fotógrafo JR Duran, que ficou célebre pelos registros que fazia ao transpor de uma forma atraente, as mulheres que passavam pela publicação. Duran já possuía um nome de estima no mercado de publicidade, mas foi fotografando modelos para revistas masculinas, que o seu trabalho ganhou um público mais amplo e o status de cult. 

As fotos foram feitas na praia Outeiro (Bahia), o local colaborou para execução da ideia de um ensaio que se assemelha a uma viajem de um final de semana prolongado para um lugar paradisíaco e desabitado, ambiente que convida o visitante a desfrutar da natureza local, de uma forma completa, com uma combinação que mescla o ambiente tropical com o encanto da natural dançarina; dessa união, resulta em um ensaio íntimo e convidativo.

Folheando a publicação, percebemos o cuidado no ensaio em expor a sinuosidade do torso feminino da dançarina, estilo que colaborou para um trabalho que foge da ideia já desgastada de mulher objeto. Essa conduta se mantém pelas 22 páginas da revista, na qual vemos a exposição natural e bastante atraente de sua forma, em conjunto com a evidente simpatia e sinceridade, afinidades que auxiliaram a publicação a ser tornar uma surpresa bem atrativa para aqueles que percorreram as suas primeiras fotos.

Pelo desenho e da forma bem trabalhada da dançarina, observamos praticamente poucas intervenções externas e com pouquíssimos retoques digitais. Esse tipo de cuidado contribui para que as imagens fossem atrativas e, apresentando ao seu público, um porte até então não muito crível harmoniosamente. 

Muito do mérito dessa edição, é devido ao padrão que a publicação se manteve em edições anteriores, que das quais, poucas alcançaram resposta satisfatória quando apareceram na revista. E esse sobressalto se mantém desde a sua capa até a sua última imagem. Gerando elogios para a modelo. Incluindo uma classificação de um retrato real de uma beleza até então pouco conhecida. 

O ensaio não tem observações a movimentos e muito menos uma distorções da realidade, o que assistimos é uma pessoa que tem como objetivo galantear o espectador, e para isso utiliza ao máximo toda a sua aptidão.

Com sua robustez, e, o correto trabalho na junção de todos esses artifícios, em prol de uma edição que acabou gerando frutos positivos tanto para a editora, quanto, principalmente para a sua modelo em questão, o que atestamos, foi uma direção elegante que a revista acabou adotando em suas edições futuras, linha editorial que manteve por um bom tempo até meados da década de 2000.

Com um tempo já passado dessa publicação, ela ainda traz um frescor para uma época em que há um debate relacionado à conduta social e a questões que tratam do feminismo e do empoderamento das mulheres. Revendo a revista, esses quesitos se tornam um tanto desconexos, devido à mudança que ocorreram a esses valores, além de uma afirmação de machismo que recebiam, perfil que a edição nunca teve, que ao contrário do que pensavam, eles sempre valorizam as suas modelos.

A revista vendeu muito bem, Scheila acabou fazendo outras capas para playboy, incluindo posters edições especiais, VHS e DVD. Também apareceu em uma edição caprichada para a revista Sexy e seu mais recente nu é do ano de 2009 para a playboy. 

Mesmo afastada desse meio e mantendo a sua vida com marido e uma filha na Bahia, fica aqui o registro em texto, dessa edição tão cativante e animadora que foi publicada em terras tupiniquins.

Parabéns!


quarta-feira, 10 de julho de 2013

Miles Davis e a Playboy


Se os ensaios de Playboy são compostos por mulheres que perturbam a mente e outras partes do corpo de qualquer homem (ou mulher de bom gosto), a Entrevista serve para lembrar que a vida não é feita só de lindas mulheres nuas em poses provocantes se insinuando para nós. O Entrevistão de Playboy — como é apelidado — é uma das áreas mais nobres do jornalismo, já que é ali o lugar em que políticos, artistas, pensadores e intelectuais encontram espaço para debater ideias, explicar mal entendidos e se mostrar sem rodeios ao público. A quantidade média de 8 páginas permite isso. Por ali, passaram nomes como, Fidel Castro, Marlon Brando, Martin Luther King, Jr., Jean-Paul Sartre, José Saramago, Nelson Rodrigues, Fernando Henrique Cardoso, Lula e Sandy, claro. 

Mas, como tudo na vida, houve uma primeira vez. E o estreante não poderia ter sido mais cool do que o trompetista de jazz Miles Davis, que inaugurou o esquema clássico de “uma conversa franca” e três retratos em preto e branco, em setembro de 1962. 

Àquela altura, Miles já havia lançado álbuns que entrariam para a história como The Birth of the Cool (gravado entre 1949 e 1950), Kind of Blue, de 1959, e mudado o rumo da música, como ele mesmo afirmou no dia em que foi a um jantar na Casa Branca, em 1987: sentado na mesa de uma “esposa de político”, a mulher perguntou: “O que você fez de tão importante em sua vida? Por que está aqui?”, ao que ele respondeu: “Bem, eu mudei a música cinco ou seis vezes”. Sim, com incursões do punk à bossa nova e influências de artistas variados como Jimi Hendrix, Miles não só deu fôlego novo ao jazz como à música de modo geral. Apesar de ser um artista influente e ter nascido em uma família bem de vida, Miles sentia o incômodo que a cor da sua pele despertava na América. Seu pai podia ser um cirurgião dentista bem sucedido e sua mãe uma elegante tecladista e violonista que vestia casacos de mink e diamantes, mas os conflitos raciais o faziam lembrar a todo tempo quem mandava nos Estados Unidos. Ter crescido no violento e preconceituoso estado de Illinois nas décadas de 1920, 30 e 40 o fez desconfiar dos brancos que se aproximavam. 

Logo, por considerar a PLAYBOY uma “revista de brancos”, ele não viu com bons olhos os pedidos para conceder uma entrevista. Talvez ele não percebesse o esforço de Hugh Hefner não só pela liberdade sexual como pela integração entre brancos e negros. Hefner, já naquele tempo, era cego para a cor da pele das pessoas e fazia questão de mostrar isso nos Playboy Club ou no programa de TV Playboy’s Penthouse, do início da década de 1960, nos quais fazia o “absurdo” de misturar gente de raça diferente no mesmo ambiente. 

Foi nesse contexto que Hefner sentiu a necessidade ter uma seção de entrevistas na revista e pediu para seus editores caçarem materiais não publicados nos arquivos. Assim, apresentaram um manuscrito do jornalista Alex Haley, futuro vencedor do prêmio Pulitzer, entrevistando Miles. Hefner se surpreendeu com a conversa dos dois homens negros que girava em torno de racismo e dos conflitos raciais da América. E achou que seria interessante publicar um diálogo como esse. 

Em sua autobiografia, Miles contou como aconteceu a negociação: “Antes da última sessão do [álbum] Quiet Nights, em novembro, eu finalmente concordei em dar uma entrevista à revista PLAYBOY. Marc Crawford, que tinha escrito uma matéria sobre mim para a [revista] Ebony, me apresentou a Alex Haley, que queria fazer a entrevista. À princípio, eu não queria aceitar. Então, Alex perguntou: ‘Por quê?’. Eu disse a ele: ‘É uma revista de brancos. Gente branca geralmente te faz perguntas só para entrar na sua mente, para ver o que você pensa. E depois eles não querem te dar o crédito por pensar no que você disse a eles’. E então eu disse a ele que o outro motivo pelo qual eu não queria dar a entrevista era porque a Playboy não tinha mulheres negras, ou morenas ou asiáticas. ‘Tudo o que eles têm’, eu disse, ‘são loiras com peito grande e bunda reta ou bunda nenhuma. Quem quer ver essas porras o tempo todo? Caras negros gostam de bunda grande, você sabe, e nós gostamos de beijo na boca, mulheres brancas não têm boca para ser beijada’. Alex falou comigo, foi até a academia comigo, foi até para o ring comigo e levou algumas porradas na cabeça. Isso me impressionou. Então, eu disse a ele: ‘Escuta, cara, por que eles não me pagam para eu responder tudo o que eles querem saber?’. Ele disse que não poderiam fazer isso. Então, eu disse que se eles pagassem 2 500 dólares a ele para fazer o trabalho, eu toparia. Eles concordaram e foi assim que conseguiram a entrevista.” 

 Durante a entrevista, é claro que o jornalista tocou no assunto de música e sobre como Miles gostaria de apenas tocar seu trompete em paz, mas a maior parte do papo foi sobre questões de raça e os preconceitos que o músico sofria desde os tempos do colégio. Isso pode passar desapercebido hoje, mas ceder um espaço assim em uma “revista de brancos”, na época, representou um ato polêmico de coragem. Até porque, naquele tempo, negros ainda eram segregados e brigavam para ter os mesmo direitos civis que o resto da população americana. No ano seguinte, 1963, Martin Luther King faria o histórico discurso “Eu tenho um sonho”, no qual falava da possibilidade da existência pacífica entre brancos e negros no futuro. Em 1964, a Lei dos Direitos Civis foi decretada, o que, entre outros direitos, permitia que cidadãos negros pudessem frequentar os mesmos lugares que os brancos. Nada que a PLAYBOY já não tivesse empenhada em fazer acontecer.