quarta-feira, 10 de julho de 2013

Miles Davis e a Playboy


Se os ensaios de Playboy são compostos por mulheres que perturbam a mente e outras partes do corpo de qualquer homem (ou mulher de bom gosto), a Entrevista serve para lembrar que a vida não é feita só de lindas mulheres nuas em poses provocantes se insinuando para nós. O Entrevistão de Playboy — como é apelidado — é uma das áreas mais nobres do jornalismo, já que é ali o lugar em que políticos, artistas, pensadores e intelectuais encontram espaço para debater ideias, explicar mal entendidos e se mostrar sem rodeios ao público. A quantidade média de 8 páginas permite isso. Por ali, passaram nomes como, Fidel Castro, Marlon Brando, Martin Luther King, Jr., Jean-Paul Sartre, José Saramago, Nelson Rodrigues, Fernando Henrique Cardoso, Lula e Sandy, claro. 

Mas, como tudo na vida, houve uma primeira vez. E o estreante não poderia ter sido mais cool do que o trompetista de jazz Miles Davis, que inaugurou o esquema clássico de “uma conversa franca” e três retratos em preto e branco, em setembro de 1962. 

Àquela altura, Miles já havia lançado álbuns que entrariam para a história como The Birth of the Cool (gravado entre 1949 e 1950), Kind of Blue, de 1959, e mudado o rumo da música, como ele mesmo afirmou no dia em que foi a um jantar na Casa Branca, em 1987: sentado na mesa de uma “esposa de político”, a mulher perguntou: “O que você fez de tão importante em sua vida? Por que está aqui?”, ao que ele respondeu: “Bem, eu mudei a música cinco ou seis vezes”. Sim, com incursões do punk à bossa nova e influências de artistas variados como Jimi Hendrix, Miles não só deu fôlego novo ao jazz como à música de modo geral. Apesar de ser um artista influente e ter nascido em uma família bem de vida, Miles sentia o incômodo que a cor da sua pele despertava na América. Seu pai podia ser um cirurgião dentista bem sucedido e sua mãe uma elegante tecladista e violonista que vestia casacos de mink e diamantes, mas os conflitos raciais o faziam lembrar a todo tempo quem mandava nos Estados Unidos. Ter crescido no violento e preconceituoso estado de Illinois nas décadas de 1920, 30 e 40 o fez desconfiar dos brancos que se aproximavam. 

Logo, por considerar a PLAYBOY uma “revista de brancos”, ele não viu com bons olhos os pedidos para conceder uma entrevista. Talvez ele não percebesse o esforço de Hugh Hefner não só pela liberdade sexual como pela integração entre brancos e negros. Hefner, já naquele tempo, era cego para a cor da pele das pessoas e fazia questão de mostrar isso nos Playboy Club ou no programa de TV Playboy’s Penthouse, do início da década de 1960, nos quais fazia o “absurdo” de misturar gente de raça diferente no mesmo ambiente. 

Foi nesse contexto que Hefner sentiu a necessidade ter uma seção de entrevistas na revista e pediu para seus editores caçarem materiais não publicados nos arquivos. Assim, apresentaram um manuscrito do jornalista Alex Haley, futuro vencedor do prêmio Pulitzer, entrevistando Miles. Hefner se surpreendeu com a conversa dos dois homens negros que girava em torno de racismo e dos conflitos raciais da América. E achou que seria interessante publicar um diálogo como esse. 

Em sua autobiografia, Miles contou como aconteceu a negociação: “Antes da última sessão do [álbum] Quiet Nights, em novembro, eu finalmente concordei em dar uma entrevista à revista PLAYBOY. Marc Crawford, que tinha escrito uma matéria sobre mim para a [revista] Ebony, me apresentou a Alex Haley, que queria fazer a entrevista. À princípio, eu não queria aceitar. Então, Alex perguntou: ‘Por quê?’. Eu disse a ele: ‘É uma revista de brancos. Gente branca geralmente te faz perguntas só para entrar na sua mente, para ver o que você pensa. E depois eles não querem te dar o crédito por pensar no que você disse a eles’. E então eu disse a ele que o outro motivo pelo qual eu não queria dar a entrevista era porque a Playboy não tinha mulheres negras, ou morenas ou asiáticas. ‘Tudo o que eles têm’, eu disse, ‘são loiras com peito grande e bunda reta ou bunda nenhuma. Quem quer ver essas porras o tempo todo? Caras negros gostam de bunda grande, você sabe, e nós gostamos de beijo na boca, mulheres brancas não têm boca para ser beijada’. Alex falou comigo, foi até a academia comigo, foi até para o ring comigo e levou algumas porradas na cabeça. Isso me impressionou. Então, eu disse a ele: ‘Escuta, cara, por que eles não me pagam para eu responder tudo o que eles querem saber?’. Ele disse que não poderiam fazer isso. Então, eu disse que se eles pagassem 2 500 dólares a ele para fazer o trabalho, eu toparia. Eles concordaram e foi assim que conseguiram a entrevista.” 

 Durante a entrevista, é claro que o jornalista tocou no assunto de música e sobre como Miles gostaria de apenas tocar seu trompete em paz, mas a maior parte do papo foi sobre questões de raça e os preconceitos que o músico sofria desde os tempos do colégio. Isso pode passar desapercebido hoje, mas ceder um espaço assim em uma “revista de brancos”, na época, representou um ato polêmico de coragem. Até porque, naquele tempo, negros ainda eram segregados e brigavam para ter os mesmo direitos civis que o resto da população americana. No ano seguinte, 1963, Martin Luther King faria o histórico discurso “Eu tenho um sonho”, no qual falava da possibilidade da existência pacífica entre brancos e negros no futuro. Em 1964, a Lei dos Direitos Civis foi decretada, o que, entre outros direitos, permitia que cidadãos negros pudessem frequentar os mesmos lugares que os brancos. Nada que a PLAYBOY já não tivesse empenhada em fazer acontecer.

terça-feira, 7 de maio de 2013

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