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sábado, 21 de outubro de 2023

O Trompete e o Pincel: A obra de Miles Davis retrata em Graphic Novel.


 

Uma nova novela gráfica tenta representar os sons, assim como as histórias, do "cara complicado" Miles Davis."

Dave Chisholm parece estar em uma posição única para escrever uma novela gráfica sobre Miles Davis. Ele não é apenas um cartunista aclamado, com vários títulos de ficção científica e detetive em seu currículo, bem como uma graphic novel sobre Charlie Parker, mas também é um trompetista de jazz treinado que é obcecado pela música de Davis desde a adolescência.

"Ele sempre foi uma Estrela do Norte artística para mim", diz Chisholm, de sua casa em Rochester, Nova York. "Eu estava ouvindo seus álbuns de quinteto, como 'Miles Smiles', no ensino médio, o que me fez aprender a tocar trompete. Eu estava constantemente pintando imagens de Miles na minha adolescência. Então, este projeto realmente é um sonho se tornando realidade."

O livro 'Miles Davis And The Search For The Sound' começa com Davis se recuperando de um derrame nos anos 70, incapaz de tocar o trompete e sendo aconselhado por sua equipe médica a tentar desenhar. "Isso foi um dispositivo útil de enquadramento", diz Chisholm, o músico tendo que se expressar visualmente.

Outra abordagem foram as citações de Miles sobre ver cores enquanto toca. Um desafio importante foi como representar o som de seu trompete: percebi que tinha que ser uma figura etérea e humanoide que altera sua forma. Sua forma de tocar é tão humana, tão cantável: tem uma qualidade vocal que parecia ser uma pessoa."

A maioria das citações do livro é retirada de entrevistas e da autobiografia de Davis, mas Chisholm não queria criar um documentário 'seco'. 'Abordei o projeto de um ponto de vista acadêmico, mas não é um livro de história - é investigativo, subjetivo e impressionista.

E eu não queria ficar limitado a recriar fotografias existentes - eu queria a liberdade de extrair imagens da minha imaginação. O emocionante para mim é criar som em um meio silencioso."

Durante todo o livro, as ilustrações de Chisholm correspondem à música. "Tento não ser muito literal, mas não consigo deixar de seguir a forma. Se você ouve a trilha sonora de 'Ascensor para o Cadafalso', é muito contida e simplificada, então tive que simplificar a arte no capítulo correspondente de volta e simples.

Em seguida, o próximo capítulo é sobre 'Sketches Of Spain', então as imagens estão cheias de detalhes. Depois passamos para o quinteto com Tony Williams e Herbie Hancock - estou tentando capturar a ESP com a qual esse quinteto se comunicava musicalmente, então minhas imagens são como as de Picasso, cheias de formas geométricas entrelaçadas." E quando Miles parte para o elétrico, Chisholm nos pinta uma explosão psicodélica de cores e formas irregulares."

Este é um projeto oficial, com a bênção do espólio de Miles Davis (no prefácio, seu filho mais novo, Erin, escreve que é 'algo que Miles teria adorado ver'). Mas eles não tentaram influenciar a visão de Chisholm. 'Havia muitas coisas sombrias em sua vida, e estou grato que sua família não me pediu para evitar isso. Eles ficaram felizes por eu apresentar este retrato de um cara complicado e problemático. Mas também é uma grande honra trabalhar com esta família e ser incumbido dessa responsabilidade de contar esta história notável." - JOHN LEWIS.

 


 

sábado, 18 de junho de 2022

Miles Davis e a década de 1980

 

A Columbia Records e a Legacy Recordings, informaram o lançamento de mais um trabalho da série Bootleg do músico Miles Davis, que agora cobre início  da década de 1980,

Nessa edição chamada “Miles Davis – That's What Happened 1982-1985: The Bootleg Series Vol. 7” é o capítulo mais recente nessa aclamada série que joga uma nova luz sobre um período subestimado da busca incansável da carreira do músico por sons sublimes e transcendentes.

O conjunto de 3 CDs inclui dois discos de material de estúdio inédito – das sessões Star People, Decoy e You’re Under Arrest – e um terceiro disco apresentando Miles Davis Live in Montreal em 7 de julho de 1983.




A coleção vem em um estojo de álbuns individuais e um livreto com encarte de Marcus J. Moore e novas entrevistas reveladoras com os músicos dos anos 1980 de Miles, incluindo Vince Wilburn Jr. (baterista e colega de banda), John Scofield (guitarrista). , Darryl Jones (baixista), Marcus Miller (baixista) e Mike Stern (guitarrista) entre outros materiais,

O volume 7 se encontra disponível em pré-venda nos formatos Digital, Vinil e CD.



Mais informações em:

domingo, 4 de fevereiro de 2018

Miles Davis em alta rotação.

O trompetista americano Miles Davis (1926-1991) é considerado por muitos músicos, críticos e especialistas em música, como um dos artistas mais influentes que já apareceram na face da terra, além de ter ajudado a ampliar as mudanças que o ocorreram no jazz a partir da década de 1950.

Muito desse mérito se deve ao caráter inovador que Miles possuía, em conjunto com o seu aprimoramento sonoro do qual manteve até ao fim de sua profissão nos anos de 1990.

Como o artista possui uma carreira extensa e extremamente prolifera, fica difícil destacar qual o trabalho mais significativo que ele produziu por quase 50 anos de atividade. Já que quase todos os álbuns gravados, foram indiretamente trabalhos que refletiam as mudanças que estavam ocorrendo no meio musical no momento em que foram produzidos.

Para sanar essa dúvida, ou simplesmente gerar mais debate, o usuário chamado Steve Henry, criou em uma rede de serviço de música Online, uma playlist contendo todos os álbuns e gravações oficiais que Miles Davis criou durante a sua vida artística. Todas as músicas estão em ordem cronológica de produção/lançamento.

Na compilação o que temos no total são cerca de 65 horas de músicas contínuas com 569 faixas. Nessa lista foram incluídos os EPs e Singles, versões em mono, relançamentos, edição em 78 rotações e gravações remasterizadas.

O bacana de ouvir essa coleção é perceber que Miles já se preocupava com a qualidade de suas músicas, mesmo tendo os recursos primários de gravação no início de sua carreira e acompanhar com o passar do tempo, a sua dedicação em sempre aperfeiçoar o seu talento, que o transformou posteriormente em um exímio compositor.

Em tempo, boa audição.




quarta-feira, 10 de julho de 2013

Miles Davis e a Playboy


Se os ensaios de Playboy são compostos por mulheres que perturbam a mente e outras partes do corpo de qualquer homem (ou mulher de bom gosto), a Entrevista serve para lembrar que a vida não é feita só de lindas mulheres nuas em poses provocantes se insinuando para nós. O Entrevistão de Playboy — como é apelidado — é uma das áreas mais nobres do jornalismo, já que é ali o lugar em que políticos, artistas, pensadores e intelectuais encontram espaço para debater ideias, explicar mal entendidos e se mostrar sem rodeios ao público. A quantidade média de 8 páginas permite isso. Por ali, passaram nomes como, Fidel Castro, Marlon Brando, Martin Luther King, Jr., Jean-Paul Sartre, José Saramago, Nelson Rodrigues, Fernando Henrique Cardoso, Lula e Sandy, claro. 

Mas, como tudo na vida, houve uma primeira vez. E o estreante não poderia ter sido mais cool do que o trompetista de jazz Miles Davis, que inaugurou o esquema clássico de “uma conversa franca” e três retratos em preto e branco, em setembro de 1962. 

Àquela altura, Miles já havia lançado álbuns que entrariam para a história como The Birth of the Cool (gravado entre 1949 e 1950), Kind of Blue, de 1959, e mudado o rumo da música, como ele mesmo afirmou no dia em que foi a um jantar na Casa Branca, em 1987: sentado na mesa de uma “esposa de político”, a mulher perguntou: “O que você fez de tão importante em sua vida? Por que está aqui?”, ao que ele respondeu: “Bem, eu mudei a música cinco ou seis vezes”. Sim, com incursões do punk à bossa nova e influências de artistas variados como Jimi Hendrix, Miles não só deu fôlego novo ao jazz como à música de modo geral. Apesar de ser um artista influente e ter nascido em uma família bem de vida, Miles sentia o incômodo que a cor da sua pele despertava na América. Seu pai podia ser um cirurgião dentista bem sucedido e sua mãe uma elegante tecladista e violonista que vestia casacos de mink e diamantes, mas os conflitos raciais o faziam lembrar a todo tempo quem mandava nos Estados Unidos. Ter crescido no violento e preconceituoso estado de Illinois nas décadas de 1920, 30 e 40 o fez desconfiar dos brancos que se aproximavam. 

Logo, por considerar a PLAYBOY uma “revista de brancos”, ele não viu com bons olhos os pedidos para conceder uma entrevista. Talvez ele não percebesse o esforço de Hugh Hefner não só pela liberdade sexual como pela integração entre brancos e negros. Hefner, já naquele tempo, era cego para a cor da pele das pessoas e fazia questão de mostrar isso nos Playboy Club ou no programa de TV Playboy’s Penthouse, do início da década de 1960, nos quais fazia o “absurdo” de misturar gente de raça diferente no mesmo ambiente. 

Foi nesse contexto que Hefner sentiu a necessidade ter uma seção de entrevistas na revista e pediu para seus editores caçarem materiais não publicados nos arquivos. Assim, apresentaram um manuscrito do jornalista Alex Haley, futuro vencedor do prêmio Pulitzer, entrevistando Miles. Hefner se surpreendeu com a conversa dos dois homens negros que girava em torno de racismo e dos conflitos raciais da América. E achou que seria interessante publicar um diálogo como esse. 

Em sua autobiografia, Miles contou como aconteceu a negociação: “Antes da última sessão do [álbum] Quiet Nights, em novembro, eu finalmente concordei em dar uma entrevista à revista PLAYBOY. Marc Crawford, que tinha escrito uma matéria sobre mim para a [revista] Ebony, me apresentou a Alex Haley, que queria fazer a entrevista. À princípio, eu não queria aceitar. Então, Alex perguntou: ‘Por quê?’. Eu disse a ele: ‘É uma revista de brancos. Gente branca geralmente te faz perguntas só para entrar na sua mente, para ver o que você pensa. E depois eles não querem te dar o crédito por pensar no que você disse a eles’. E então eu disse a ele que o outro motivo pelo qual eu não queria dar a entrevista era porque a Playboy não tinha mulheres negras, ou morenas ou asiáticas. ‘Tudo o que eles têm’, eu disse, ‘são loiras com peito grande e bunda reta ou bunda nenhuma. Quem quer ver essas porras o tempo todo? Caras negros gostam de bunda grande, você sabe, e nós gostamos de beijo na boca, mulheres brancas não têm boca para ser beijada’. Alex falou comigo, foi até a academia comigo, foi até para o ring comigo e levou algumas porradas na cabeça. Isso me impressionou. Então, eu disse a ele: ‘Escuta, cara, por que eles não me pagam para eu responder tudo o que eles querem saber?’. Ele disse que não poderiam fazer isso. Então, eu disse que se eles pagassem 2 500 dólares a ele para fazer o trabalho, eu toparia. Eles concordaram e foi assim que conseguiram a entrevista.” 

 Durante a entrevista, é claro que o jornalista tocou no assunto de música e sobre como Miles gostaria de apenas tocar seu trompete em paz, mas a maior parte do papo foi sobre questões de raça e os preconceitos que o músico sofria desde os tempos do colégio. Isso pode passar desapercebido hoje, mas ceder um espaço assim em uma “revista de brancos”, na época, representou um ato polêmico de coragem. Até porque, naquele tempo, negros ainda eram segregados e brigavam para ter os mesmo direitos civis que o resto da população americana. No ano seguinte, 1963, Martin Luther King faria o histórico discurso “Eu tenho um sonho”, no qual falava da possibilidade da existência pacífica entre brancos e negros no futuro. Em 1964, a Lei dos Direitos Civis foi decretada, o que, entre outros direitos, permitia que cidadãos negros pudessem frequentar os mesmos lugares que os brancos. Nada que a PLAYBOY já não tivesse empenhada em fazer acontecer.